A Senhorinha!
- Rev. Jorge Luiz Perim
- 14 de nov. de 2016
- 4 min de leitura

Ah! Eu já experimentei a alegre companhia daquela amável “senhora”! Eu era ainda menino, mas a conheci bem cedo, em tenra idade. Ela era tão meiga, desfilava o traço do tempo em sua forma suave, antiga, porém, tão bela e admirável. Produzia sorrisos no rosto de quem por ela passava. Era comum encontrar-se com ela, quase todos os dias, saindo pelo portão de uma casa, atravessando uma rua, entrando em um supermercado, ora parada paciente em um “farol”, outrora tranquila na direção de seu carro, ás vezes, numa boa “prosa” de esquina, quem sabe oferecendo sua atenção aos pequeninos e até mesmo auxiliando os “vovôs” na fila de um caixa. Verdade é que, perceber sua presença, mesmo que ao longe, por si só já bastava para dar a alguém a razão de continuar, para descortinar um novo caminho a seguir, para motivar um desanimado a prosseguir, para ensinar o perdido a buscar e encorajar o enfraquecido a conquistar o que seu coração desejava, em um dia que já fora transformado somente pelo prazer de contemplá-la.
Sim! Sim! Eu conheci essa doce “senhora”. Costumava-se vê-la com mais frequência, passeando pelas ruas, conversando com as pessoas, influenciando o seu estilo de vida. Tão “notória” era sua presença que parecia habitar em tantos lugares, com tantas “gentes” e falar tantos idiomas, pois todos a podiam compreender; melhor ainda, ninguém resistia em aceitá-la. Invejável, sim, ela era invejável. Seus costumes eram mesmo desejáveis: sua maneira de se aproximar, seu “jeitinho” de ir embora, quem lhe ensinou esses modos? Os que por ela passavam queriam, ao menos, por um momento, ser como ela, talvez imitá-la. Parecia trazer consigo uma “palavra mágica” que contagiava as pessoas e transformava qualquer ambiente no lugar mais agradável de estar. Eu me lembro, não havia nela orgulho, sombra de vaidade ou sinal de presunção. Não a tenho visto ultimamente. Que saudade de sua beleza, de sua força e de seu respeito.
Eu era ainda jovem, mais jovem do que sou hoje. Não tenho visto mais “sorrisos” como aqueles. Quando aquela “senhorinha” desfilava sua graça entre nós, aqueles dias pareciam ter mais brilho, o sol parecia “estar” mais alegre, as aves entoavam sempre uma nova melodia e as árvores dançavam como quem festejava. Até o “tempo” parava para vê-la passar. Ah! Como era bom passar por ela, pensar em “atravessar” por ela, esbarrar-se nela, mesmo o aroma de sua “momentânea” presença já produzia em nós algo que poderíamos chamar de “prazer”. Sim, aquela “senhorinha” nos oferecia muito prazer. Alguns nem mesmo sabiam seu nome, era... como pude esquecer o seu nome!?! Mas, que importa, ela não queria mesmo ser aclamada.
Bons tempos! Ó, lembro-me agora: aquela “dona” nunca estava sozinha. Por onde quer que fosse, estava constantemente bem ladeada. Nenhuma desavença conseguia detê-la, a “amizade” sempre a acompanhava. Nenhuma desordem emocional tinha força para oprimi-la, o “amor”, eternamente jovem, nunca a desamparava. Nenhuma dor podia abatê-la, pois a “alegria” em todo o tempo a fortalecia. Nenhuma calúnia a desanimava, a “verdade” estava continuamente do seu lado. Não me lembro de jamais vê-la murmurando, também, a “gratidão” era sua vizinha mais chegada. Em seus momentos de apuros sempre surgia quem a defendesse. E mesmo quando os “perversos” tentavam fazer-lhe mal, a “bondade”, tantas vezes discriminada como fraca, era quem a defendia.
Que saudade desse “povo”! Que saudade dessa “gente”! Que saudade daquela “senhorinha”! Por onde será que andam!? Que pena que alguns já se esqueceram dela. Alguns, como eu, “agora”, nem mesmo lembram o seu “nome”. Será que deixou “filhos”!? Ah, seriam os mais nobres desta terra. Bom mesmo seria redescobrir sua origem. Aquela simpática “dona” nasceu neste mundo, não deve ser tão distante. Se procurarmos, creio, vamos encontrar sua “parentela”, quem sabe alguém de sua linhagem habite conosco. Talvez ela tenha feito “discípulos”, gente que aprendeu seu jeito de ser, de se comportar, de falar, de andar, gente “cortês”, gente simples quanto ela, porém, nobre e culta. Quem sabe podemos procurar por seus amigos e, então, até mesmo encontrá-la, pois apesar do tempo, aquela “senhorinha” não poderia morrer.
Acredito que aquela madura “senhora” trazia consigo uma porção encantada que conservava a longevidade; pelo menos, tenho certeza, sua presença melhorava a “qualidade” de vida das pessoas, e isto tornava a existência terrena menos dolorosa e mais plena de propósitos.
Ei! Alguém deve lhe ter tirado uma foto. Pessoas mais vividas devem lembrar-se “dela”.
Olá! Alguém, por favor, junte-se a mim, ajude-me a encontrá-la. Não podíamos desprezar seus conselhos, não tínhamos o direito de “sepultar” seus princípios, não nos cabia “apagar” seus exemplos, não devíamos nos esquecer de seus ensinamentos.
Ah! Eu daria tudo para vê-la desfilar novamente pelas modernas ruas da cidade, influenciando as novas gerações com seu “estilo” único e universal de ser. Sem credo religioso nem partido político, tenho certeza de que a “velha senhora” surpreenderia nossa geração, nos apontaria caminhos e soluções que a democracia desconhece, o capitalismo assassinou e a pós-modernidade desonrou, destruindo suas memórias.
Sim! Sim! Em minha ardente saudade, num “lampejo” de esperança me lembro de sua feição, recordo agora a expressão de seu rosto, “linda”; “fechando os olhos”, quero tocá-la, preciso abraçá-la, desejo imitá-la, tento vivê-la; sim, posso praticar novamente o que, através dela aprendi; vou buscá-la de casa em casa. Ah! Doce alegria, me lembro mais, recordo o seu nome. Não sei o endereço, mas se alguém quiser conhecê-la, encontrá-la, reencontrá-la, aquela gentil e pacata “senhorinha” atendia pelo polido nome de “EDUCAÇÃO”.
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